TERREMOTOS NO ALGARVE

Uma região de elevado risco sísmico em Portugal

O Algarve é uma das regiões de Portugal continental com maior risco sísmico, juntamente com Lisboa e o Vale do Tejo. Esta vulnerabilidade deve-se à proximidade da região à fronteira entre as placas tectónicas africana e eurasiática, situada a cerca de 200 km a sudoeste do Cabo de São Vicente.

A atividade sísmica no Algarve não é um fenómeno recente. Ao longo da história, a região foi afetada por numerosos terramotos, alguns de grande magnitude, que deixaram marcas profundas na paisagem e na memória coletiva da população. O mais devastador de todos foi o terramoto de 1755, que permanece um dos maiores terramotos alguma vez registados em todo o mundo.

O terremoto de 1º de novembro de 1755 é considerado um dos maiores terremotos da história mundial.
O terremoto de 1º de novembro de 1755 é considerado um dos maiores terremotos da história mundial.

Contexto Geológico

Placas tectônicas

Portugal Continental situa-se na Placa Eurasiática, muito perto da fronteira com a Placa Africana. Esta fronteira é complexa e apresenta características tectónicas distintas, sendo subdividida em três segmentos principais:

Banco de Gorringe: mostra um movimento de compressão (empuxo) da Placa Eurasiática sobre a Placa Africana.

Falha de GLORIA: onde existe uma velocidade de deslocamento relativa entre as duas placas de cerca de 3,39 cm/ano.

Fenda Terceira: apresenta uma velocidade de separação entre as placas de aproximadamente 0,76 cm/ano.

Falhas ativas no Algarve

O sul de Portugal está particularmente exposto não só a sismos gerados no limite das placas tectónicas, mas também à presença de várias falhas ativas que atravessam a região do Algarve:

Portimão Fault / Quarteira Fault

Falha de Faro-Loulé (onde ocorreu o terremoto de 1722) / Planície Abissal da Ferradura (traço com mais de 100 km de extensão)

O Grande Terremoto de 1755

Características dos terremotos

O terremoto de 1 de novembro de 1755 é considerado um dos maiores terremotos da história mundial. Com uma magnitude estimada entre 8,5 e 9 na escala Richter, este evento catastrófico não só destruiu Lisboa, como também causou profunda devastação em todo o Algarve.

Impacto no Algarve

O Algarve sofreu uma destruição massiva. A cidade de Lagos, então capital da região e berço dos Descobrimentos Portugueses, foi quase completamente destruída. Em Vila do Bispo, restou apenas uma casa. A cidade de Silves perdeu a sua Catedral, Torre, Castelo, Muralhas e inúmeras casas.

O tsunami que se seguiu ao terramoto atingiu toda a costa do Algarve, com ondas que chegaram a atingir 15 metros de altura perto do Cabo de São Vicente. Quase todas as vilas e cidades costeiras foram severamente danificadas, com exceção de Faro, que ficou parcialmente protegida pelas margens arenosas da Ria Formosa.

Locais mais afetados

Lagos: Ondas do tsunami atingiram o topo das muralhas da cidade.

Silves: Registrou 14 mortes e destruição de monumentos históricos.

Portimão e Albufeira: Destruição generalizada nas zonas costeiras.
Armação de Pêra: Severamente afetada pelo tsunami.


Risco sísmico e prevenção

Vulnerabilidade Regional

Segundo estudos da Associação Portuguesa de Seguros (APS), o Algarve está entre as zonas com maior risco sísmico no país. Esta vulnerabilidade é agravada por diversos fatores:

Proximidade a falhas ativas e ao limite da placa tectônica

Alta concentração populacional em áreas costeiras

Parque habitacional antigo e vulnerável a terremotos

Baixa adesão ao seguro contra terremotos (apenas 19% das residências)

Escolas e infraestrutura pública necessitam de reforço estrutural.

Medidas de prevenção

A Autoridade Nacional para Emergências e Proteção Civil (ANEPC) desenvolveu diversas iniciativas de conscientização e prevenção:

Exercício "Terra Treme": Realizado anualmente para ensinar as 3 ações que salvam vidas: ABAIXAR, PROTEGER-SE e SEGURAR.

Plano Especial de Emergência: O Algarve possui um Plano Especial de Emergência da Proteção Civil para Riscos Sísmicos e de Tsunamis.

Sistema de Alerta: Projeto piloto de sirenes de alerta populacional na Praia da Rocha

Simulações de evacuação: Testes regulares de evacuação em caso de tsunami

O que fazer em caso de terremoto

Durante o terremoto:

Deixe-se cair no chão para evitar a queda.

Abrigue-se debaixo de uma mesa resistente ou contra uma parede interna.

AGUENTE FIRME até que o tremor pare, protegendo a cabeça e o pescoço.

Após o terremoto:

Se estiver na costa, dirija-se imediatamente para um terreno mais alto (acima de 10 metros).

Mantenha-se afastado de edifícios danificados.

Não utilize os elevadores.

Siga as instruções das autoridades.


Portugal é o mais recente país da região do Atlântico Nordeste, Mediterrâneo e Mares Conectados (NEAM) a ser equipado com o novo Sistema Nacional de Alerta de Tsunami que emitirá mensagens em caso de tsunami nas costas portuguesas ou perto delas.
Portugal é o mais recente país da região do Atlântico Nordeste, Mediterrâneo e Mares Conectados (NEAM) a ser equipado com o novo Sistema Nacional de Alerta de Tsunami que emitirá mensagens em caso de tsunami nas costas portuguesas ou perto delas.

O Algarve é uma região de elevado risco sísmico, onde a possibilidade de um grande terramoto é real. Os especialistas alertam que um evento semelhante ao de 1755 pode ocorrer a qualquer momento, com um período de recorrência estimado em cerca de 1800 anos.

A preparação individual e coletiva é essencial. A conscientização pública, o reforço da infraestrutura vulnerável (especialmente escolas e hospitais) e a contratação de seguros contra terremotos são medidas essenciais para minimizar o impacto de um possível grande terremoto na região.

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) monitoriza continuamente a atividade sísmica, disponibilizando informações atualizadas no seu sítio web. O público é incentivado a comunicar sismos sentidos através de questionários disponíveis, contribuindo assim para uma melhor compreensão do risco sísmico na região.


Fontes e referências

Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) - www.ipma.pt

Autoridade Nacional para Emergências e Proteção Civil (ANEPC)

Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica (SPES)

Instituto Dom Luiz (IDL) - Universidade de Lisboa

Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC)

Jornal do Algarve, Sul Informação, Postal do Algarve